Vivemos em sociedade. Criamos uma rede de relacionamentos humanos complexa, onde fica impossível não depender de outros seres humanos a todo o tempo. Dependemos economicamente, profissionalmente. Dependemos dos outros para nosso conforto, segurança. Para definirmos nossas metas e para alcançá-las. E para aceitar o fracasso dos objetivos perdidos. E acima de tudo dependemos desses relacionamentos para a felicidade. Para sentirmo-nos completos, importante, parte de algo maior. Muitas pessoas entram e saem de nossos mundos ao longo do nosso tempo de vida. De algumas delas sequer lembramos. Sequer reconhecemos que ela por si é um outro mundo, uma outra realidade. Outras, ficam para sempre. Arranham nossa memória, forçam novas conexões cerebrais de forma a imortalizarem-se durante nossa existência. Mesmo que morram. Mesmo que se vão. Estarão conosco até nosso último momento. Mas nem todas marcam de forma igual. Cada uma é uma experiência única. A maior diversidade que existe no mundo é o ser humano, e nosso maior erro é comparar vidas. Comparar corações. Comparar paixões. Mas talvez exista algum padrão. Alguns modelos maiores onde podemos encaixar cada uma dessas pessoas. E a perspectiva pela qual podemos compreender cada uma dessas pessoas não é outra senão a nossa. As pessoas não estão aí para nos servirem. Elas também são pessoas. E são só pessoas. Mas a forma como as recebemos, ou a forma pela qual permitimos seu contato íntimo com nossa vida é o que define seu papel.
Existem aquelas que chegam até nós por uma razão. Porque nosso momento as chama, as procura. Desempenham um papel objetivo e restrito na nossa vida. Preenchem uma lacuna de algo que perdemos. Ajudam a elevar nossa auto-estima após uma desilusão. Juntam nossos cacos. Nos fazem enxergar o horizonte além do desespero. São como anjos que vem quando mais precisamos. E invariavelmente somos injustos com eles. Assim que acabam seu papel, tornam-se dispensáveis. E é claro que eles não tem consciência desse papel – temos sempre que ter em mente que essas pessoas são outros universos tão ricos, complexos e misteriosos como nós mesmos. E nós também estamos desempenhando um papel para elas. O fato é que elas se vão rapidamente, como um free-lancer assim que conclui o serviço contratado. Podem sair machucadas. Cest´la vie.
Existem aquelas que ficam por uma estação. Aquelas a quem não procuramos. Que não vêm completar nada. Não têm a função de preencher nenhum vazio; sequer têm alguma função. Não estão ali para consertar nenhum estrago. Mas mesmo assim, chegam. São pessoas que nos acrescentam muito, fazem crescer. Destroem um pouco de nossa verdade para nos presentear com novas visões. Novas compreensões. E depois se vão. Sem que tenhamos cometido nenhuma falta. Simplesmente vão.
E há aquele tipo mais intenso. Aquele que vem e fica para sempre. Contamina nosso coração com sua essência, grudam em nós como tatuagem. Não diz respeito à nossa vontade mandá-las embora. Às vezes até tentamos com bastante empenho, em vão. Veja bem: ficar por toda a vida não significa ficar próximo fisicamente. Essas pessoas também partem, cedo ou tarde. Por causas amenas, ou após brigas épicas, não importa. Ou até talvez fiquem até que a morte nos separe. O importante é que perto ou não, elas estão juntas a nós todos os dias. Todos os momentos. Seja bom ou seja ruim, não conseguimos deixar de senti-las junto à nós. Nos tornamos, em parte,elas. Roubamos um pouco da essência da qual são feitas. Talvez elas também tenham roubado um pouco da nossa, quem sabe? Depende do papel que desempenhamos no momento da história em comum.Percebemos que falamos aqui dos grandes amores, das grandes amizades. E como podemos ser melhores? Entendendo os papéis que as pessoas representam para nós, e os papéis que desempenhamos para os outros. Deixando partir quem quer partir. Partindo quando se deve partir. Respeitando quem dividiu conosco sua alma. Quem um dia nos amou, ou quem um dia foi por nós amado. Lembrando que, acima de qualquer papel, as pessoas são só...as pessoas!
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