segunda-feira, 1 de junho de 2009

O último poeta-bartender


Esse post traz vida a esse miserável recôncavo internético, após quase 2 meses do mais completo abandono. A culpa (pelo retorno) é toda do Sidão, um dos melhores comensais que se pode conseguir gastando menos de dez reais em uma noite.


Trata-se de uma poesia. Despretensiosa, gostosa, rápida, efêmra, humilde....


"O último poeta-bartender"

Eu assisto aos errantes
Beijando os drinques que preparo
Suas almas tresloucando
com licores que chacoalho

E gozo o néctar que surge
Do rodopiar da bailarina
Que envenena todo o sangue,
e vai curando, qual morfina

Que se revela enfermeira
Mas apresenta-se assassina
e disfarça-se -- a mais turva!
entre a água cristalina

e dança...mas

Minhas receitas e tua sede
ainda erram a simbiose
ainda prendem-se às regras
como sob uma hipnose

Se lhes falta embriaguez,
Porque não mais uma dose?

Minha conta nunca é justa;
Teus pedidos, meio incertos
Mas a noite está no início
E não só álcool é o que oferto

Te entrego a tua essência
(traz teu copo pra mais perto...)
Desamarra o teu passado;
Que o agora está desperto!

Beba.
Beba.
Beba!
O bar está...aberto!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

KISS – Alive 35 Tour




Prelúdio
Fui ao show com poucas expectativas. Não compreendia os motivos de eles manterem as máscaras após a saída dos membros originais (Peter + Ace), nem os motivos de insistirem na releitura do passado, em vez de retomarem o ótimo trabalho iniciado em Revenge e levado às últimas consequências em Carnival of Souls. Eu acreditava que iria assistir um eco, um cover deles mesmos, uma máquina de caçar níqueis do rock and roll. Fui porque sou fã de carteirinha. Mas a cada minuto que passava (das longas 12 horas entre fila e espera dentro da arena) crescia uma ansiedade mais otimista. Afinal de contas era o Kiss...

Abertura
O Dr Sin decepcionou. Os caras são fãs declarados do Kiss, então não custava montar um set-list de músicas mais voltadas ao hardrock do seu início de carreira, quando a influência dos mascarados era muito mais nítida. Em vez disso desfilaram metais cansativos. Exceção para a segunda música (Emotional Catastrophe) e para a penúltima (Miracles) – duas obras primas.
Aí fecharam com a terrivel “Futebol, mulher e rock and roll”. Uma música horrível, com uma letra miseravelmente machista e infantil (“eta, eta, eta brasileiro quer...”). Deu vergonha... Se bem que as letras nunca foram o forte da banda...

Os caras só se safaram porque entre uma música e outra insistiam em pregar uma paixão infinita pelo Kiss. Pelo menos com isso conseguiram ser melhor recebidos pelo público do que o (desgraçadamente ruim) Hamstein, em 1999.

O show
Acabada a apresentação da banda de abertura preparei-me para mais algumas horinhas de canseira – o que surpreendentemente não aconteceu. O espetáculo começou durante os próprios preparativos: os roadies retiravam os panos que até então escondiam os amplificadores e os adereços de palco do Kiss ao som da (bestialmente linda) Won´t get Fooled Again, do The Who. E o riff poderoso do final da música foi minuciosamente orquestrado com a cortina sendo estendida à nossa frente. Uma cortina negra, com o símbolo do Kiss prateado. Os telões foram ligados. Uma pequena luz vermelha no palco denunciava levemente a silhueta dos deuses do rock pisando no palco. Veio o tom grave do baixo, e então a voz mais esperada por todos na noite: “All right São Paulo! (...)” – o coração veio à boca e a emoção correu solta. Trinta e oito mil pessoas gritavam, enlouquecidas. Eles estavam lá.

O que se seguiu foi um set-list simplesmente impecável. Uma reprodução quase fiel do excelente Alive! de 1975 (que reúne os clássicos dos 3 primeiros álbuns da banda) e um encore com seis musicas de épocas distintas. Claro que com 35 anos de estrada existem muito mais clássicos do que um show pode suportar, e quem é fã realmente não teve o que reclamar da seleção.

Quanto à banda, os detaques foram, indiscutivelmente, aqueles que eram a causa do meu nariz torcido: Tommy Thayer provou definitivamente que tem uma postura digna de assumir a posição que já foi de Ace Fhreley e de Bruce Kullick. Interpretou os solos clássicos de forma espetacular, manteve uma postura de Guitar God digna da banda da qual faz parte e ganhou a simpatia do público.

Eric Singer imprimiu sua força descomunal à bateria, fazendo muito mais do que imitar Peter Criss (que já foi tarde, diga-se de passagem). Sua “marca” fica evidente em músicas como Lick it Up e Detroit Rock City, conferindo muito mais peso e energia às músicas e lembrando muito o estilo de apresentação que a banda tinha em meados dos anos 90, na primeira ocasião em que ocupou as baquetas do Kiss, época do terceiro Alive.

Paul continua o mesmo show-man, interagindo o tempo todo com as câmeras e com o púbico, brincando com a voz e segurando sua guitarra como ninguém faz no mundo do rock! Gene fez seu papel –as caras de mau, o olhar demoníaco e tudo o mais. Mas parecia menos à vontade do que em 1999, verdade seja dita. E que os chefes fundadores da banda foram levemente apagados pelos “novos” membros, foram...

Talvez minha única reclamação seja quanto aos solos de guitarra e bateria, que continuam cada vez mais chatos após 35 anos. Poderiam muito bem substituir os dois pela apresentação de Car Jam, do álbum Revenge.



Além da música
Verdade que foi um show perfeito para os fãs. Mas também seria para qualquer um – mesmo para alguém que nunca tenha ouvido uma música sequer da banda. Afinal de contas, um show do Kiss é um espetáculo como poucos no planeta.
Um baixista-demônio que cospe fogo, vomita sangue e voa para cantar para sua platéia em um pedastal acima dos holofotes; uma bateria que flutua, uma guitarra que dispara mísseis e um front-man que atravesse a arena em um teleférico 2 metros acima de seu público para cantar em meio à ele. Alguma banda faz parecido? Não é à toa que as 38 mil pessoas respondiam a cada comando, viesse ele do Paul, Gene, Eric ou Thommy...

A magia
Lá pela quarta ou quinta música (quando o empurra-empurra resolveu acalmar) olhei para o palco e pensei no meu aniversário. Dentro de dois dias completaria meus 30 anos. E eu estava diante de uma banda da qual sou fã desde que comecei a gostar de música, sem conseguir lembrar de qualquer época de minha vida em que eles não estivessem presentes. Paixões, dores-de-cotovelo, festas, ressacas...grande parte da trilha sonora de toda a minha vida estava ali, ao vivo, a poucos metros. O choro foi inevitável, e a emoção escorreu livre, líquida, rejuvenescendo o mesmo rosto que ostentava um sorriso rasgado de orelha à orelha e que acompanhava cada frase, cada refrão.

A magia naquela noite tonou-se palpável, tomando forma nas bizarrices que apenas um show de rock pode produzir: quando me dei conta estava abraçado, pulando e cantando junto a ilustres desconhecidos. Estranhos, suados, loucos, fascinados, unidos apenas pela música e pela vibração inexplicável do momento. Paz...


Kiss Forever
Agora eu entendo o sentido das máscaras. Elas guardam mais que os personagens criados pelos músicos: guardam também sua juventude. E ver Paul e Gene no palco hoje não é diferente de vê-los em 1975. Algumas bandas perdem-se no caminho, outras envelhecem sabiamente. O Kiss resolveu ser eternamente jovem.

E quanto à minha (antiga) queixa de insistirem em reviver o passado...bom, quem chegou no Anhembi com a mesma cisma agora compreende, assim como eu. Milhões de pedaços de papel picado voando, luzes ofuscantes e explosões magníficas ao som de Rock and Roll All Nite nos faz pensar: “wow, THAT´S whats rock and roll is about...”.

Assim, em inglês mesmo, sem tradução à altura.

Thank you, Kiss.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Escrever

O maior erro de quem pretende começar a escrever é acreditar demasiadamente na leitura: ler é imprescindível, mas escrever é essencial.

Aprender a escrever apenas lendo é como aprender a dirigir só sentando no banco do passageiro, observando o motorista.

terça-feira, 31 de março de 2009

Che, o argentino



Ainda nos soa incrível que um cineasta do porte de Steven Soderbergh (já premiado pela academia como melhor diretor pelo ótimo trabalho anterior também com Benício Del Toro, Traffic) possa produzir uma obra sobre a revolução cubana tão aberta e imparcial como Che, o Argentino. Alguns anos atrás isso seria talvez inviável sob o auge do reinado de terror de Mr. Bush.

Longe de retratá-lo como um Rambo latino-americano (o que favoreceria um possível e superficial filme de ação pautado nos conflitos de Sierra Maestra) ou de mitificar uma imagem cristã estapafúrdia de liderança popular, Soderbergh e Benício criam um retrato único e superficial do argentino. Vemos Ernesto Guevara como alguém que decide se aliar a Fidel não por ser naturalmente inclinado à violência, mas por amor e ódio. O primeiro, aos camponeses oprimidos pela cruel política econômica norte-americana imposta a toda a América Latina. O segundo, pelo imperialismo dos Estados Unidos que patrocina a opressão do governo ditatorial de Fulgêncio Batista.

Soderbergh (e Benício, que também é co-produtor) deixam claro que não pretendem “compreender” a mente de Che. Assim, o personagem é retratado sempre de forma distante (apesar de presente em quase todas as cenas) e humanizado: vemos um Che asmático com dificuldades em acompanhar seus guerrilheiros, e sensivelmente mais violento e menos carismático que seu amigo Fidel - existe uma cena em que Che comanda a execução de dois desertores de forma fria e impiedosa, que por si já justifica e consagra sua imagem de líder militar respeitado e temido. Mas não há maquineísmo - Che não é nenhum santo milagreiro, tão pouco o Belzebu que pinta a extrema direita política até hoje (alguém aí pensou na revista Veja?)

Alternando a narrativa entre basicamente 3 períodos históricos sem preocupar-se em criar uma cronologia ou uma razão óbvia para essas alternâncias, o filme privilegia o aspecto de documentário que assume: vemos como o médico Ernesto conheceu o militante Fidel em um jantar com amigos – e seus planos iniciais sobre a revolução; os conflitos armados em Sierra Maestra culminando com a tomada do poder; e a participação marcante do personagem como ministro das finanças de Cuba em uma conferência da ONU.

Essa primeira parte do projeto retrata nitidamente a ascensão de Che, desde o médico idealista até a figura política notória e destemida (destaque para uma deliciosa cena onde o ministro Che provoca o senador McCarthy em uma festa, agradecendo-o em nome de toda a revolução pela frustrada tentativa de invasão pela Baía dos Porcos).

E apesar do caráter imparcial da obra fica impossível não apaixonar-se pela sua figura emblemática que enfatiza a educação de sua tropa com importância tão grande (senão maior) do que sua paixão pela revolução. Assim, os minutos finais da projeção consagram o Che-ícone: após a tomada do poder em Cuba ele nega o direito a um guerrilheiro de visitar sua família, justificando que “o que acabou foi a guerra; a revolução está apenas começando”. Uma outra cena retoma o primeiro encontro com Fidel, quando Che concorda em seguí-lo sob uma única condição: após a vitória em Cuba ele levaria a revolução para o restante da América Latina. Um perfeito retrato do idealista. E também um perfeito preâmbulo para a décadence que podemos esperar ver na segunda parte do projeto - “Che, a Guerrilha.”

domingo, 29 de março de 2009

You wanted the best (?), you got it: Kiss em Sampa

Gene e Paul estarão lá. Eric Sing e Tommy Thayer acompanharão.

Ok, não é o melhor do KISS que poderíamos ver, nem de longe.

Quem dera o dinheiro não tivesse falado tão alto e os chefões ainda tivessem Bruce Kullick na banda. Carnival of Souls foi o mais distante que eles chegaram de sua linha e proposta inicial. Música sombria e pesada, letras maduras, vocais densos. Kulick compondo e assumindo os lead vocais de forma espetacular. Sabe-se lá para onde iriam se não abandonassem esse caminho. Mas decidiram pela reunião e pelo Psycho Circus, e isso possibilitou ao fãs brasileiros um show em 1998 com um set lista maravilhoso, muito próximo de Alive II, e todo o teatro que m show do Kiss pode ofertar: Gene voando e cuspindo sangue, Ace disparando sua guitarra (literalmente) contra a platéia, etc etc. E valeu muito a pena.

Hoje a banda é um eco do que foi. A decisão de continuar com as máscaras após a demissão do baterista e guitarrista beberrões não agradou a quase ninguém. E eu me pergunto: por quê não implorar pela volta de Kubrick para a banda, lavar a maquiagem do rosto e continuar de onde pararam, como se Psycho Circus tivesse sido apenas um devaneio? Coisas de Gene...

Mas todo fã de carteirinha que se preze não pode deixar de assistir. Não tão pertinho de casa, uma vez que isso vem acontecendo em São Paulo a cada dez anos e os patrões da banda (Paul e Gene) já estão chegando na casa dos sessenta anos. Ou seja, muito provavelmente o último por estas terras.

Afinal de contas, foram eles que fizeram com que a adolescência de muitos de nós tivesse sentido com a fórmula basica sex, drugs and rock n´roll - all nite!