Mas ele me veio à cabeça. E à sua, também, leitor, se tiver entre 25 e 35 anos. É um ícone de nossa infância, inevitável.
Queria era falar daquele momento em que muitos de nós refletimos sobre a própria trajetória no mundo, comparando-a a um grande jogo. Sem recorrer a argumentos filosóficos ou religiosos para debater a existência humana, o propósito da vida, blá, blá, blá, blá, blá, blá. Quero apenas ver a vida como um jogo, assim como você certamente já o fez, um dia. Sem grandes pretensões. Vou por partes.
Desde muito cedo aprendemos a magia da simulação. E passamos boa parte da infância usando o quintal dos avós como palco para o ensaio geral da vida. Fingimos ser médicos, astronautas, detetives, pilotos de caça. Talvez no fundo a gente saiba que não vai ser nada disso (a maioria não vai). Dá pra sacar quando a mãe chama para o banho, e vemos nosso pai-herói chegando em casa cansado, esbaforido, reclamando e xingando as pequenas infelicidades do seu dia no escritório, enquanto afrouxa a gravata.
A primeira grande “virada” no jogo vem com a enxurrada de hormônios da puberdade. É quando trocamos a simulação da fantasia pela representação da realidade que pretendemos. Aprendamos rápido que existem muito mais regras, normas e condutas sociais regendo as leis das relações sexuais do que supõe nosso vão instinto animal. Essa conversa de feromônios, odores e fluídos hormonais compatíveis pode ser muito boa para os animais. Para meu gato, por exemplo. Para os pobres adolescentes humanos é preciso muito mais. É preciso ser cool. Por isso passamos a mudar penteados, escolher roupas, músicas, amigos e costumes com o objetivo de adequarmo-nos a um grupo, a uma tribo; para termos uma identidade que nos dê status o suficiente para conseguirmos um passe livre para o coração da garota desejada (ou para sua cama). O jogo se torna complexo: a competição fica acirrada. Os prêmios, tentadores; as derrotas, amargas. Uma curiosidade sobre o joguinho de tabuleiro: suas regras permitem casar-se uma única vez, com a única mulher que se tromba em todo o circuito daquela vidinha mais-ou-menos, que é narrada pela trama (cansada, por sinal). Mas dá pra ter quantos filhos a sorte lhe presentear. Fico pasmo com o ano em que ele foi criado: 1992! Terá sido ingenuidade ou sarcasmo?
A segunda virada vem com a fase adulta. Contas, carnês, emprego, faculdade, filhos, celulite. E tudo parecer ser comandado pelas misteriosas roleta e cartas invisíveis. Só que consciência de que estamos jogando fica cada vez menor. Quase não temos tempo para isso. Até que chega uma madrugada à toa e nos pegamos refletindo sobre o tema, na varanda, com um cigarro pela metade e um copo de uísque. Falando em reflexões, outra curiosidade sobre a versão lúdica do jogo: quando o jogador “abre falência” é condenado miseravelmente a se aposentar em uma fazendo como...filósofo (!!!). Ótima orientação para as crianças a partir de 8 anos: pensar demais empobrece. Triste, mas assim funciona a vida real.
E o que concluímos? O leitor, ainda não sei. Talvez possa apreciar sua resposta nos comentários desse post. Eu percebi uma coisa muito clara: quanto mais a sério pretendemos levar o jogo da vida, mais difíceis ficam as regras. Portanto, decido que de agora em diante nem todas as minhas partidas serão jogadas com tanto medo de errar. Paixão e seriedade pra valer, só naquilo que for essencial mesmo, que não dá pra ser de outra forma. Para tudo o mais, acabo de adotar um botão do pânico no meu tabuleiro. Fica entre a roleta e o montinho das cartas de riqueza: é vermelho, grande, e deve ser acionado todas as vezes em que tudo parece perdido. Nele está escrito, em caixa alta e negrito: FODA-SE!
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